O nascimento do Samuel Elohin
Depois de 02 anos de espera para
a chegada do meu 1º filho, meu ser das estrelas que me foi prometido pelos
anjos, finalmente tudo se tornava realidade, eu estava com grávida!
Fiquei dias tentando me convencer
de que aquilo não era um sonho, e nos meses seguintes tive que ficar me
convencendo que tudo seria perfeito e que não precisava me preocupar, eu tinha
pavor que qualquer coisa pudesse acontecer ou que eu pudesse perder meu bebê,
entre outras mil coisas que passavam pela minha cabeça, mas fui muito abençoada
e meu corpo fez seu trabalho direitinho, passei por descobertas e emoções que
me fizeram rever a vida e tudo o que eu havia aprendido até aquele momento.
Com o passar dos meses me
descobri uma boa entendedora sobre maternidade, gravidez, partos, etc., eu não
saia do computador e curti muito cada fase. Sempre tive algo que me dizia que
ficar grávida e não ter um parto normal era muito estranho, sou vegetariana há
anos, defensora de que as coisas deveriam ser o mais natural possível, então
descobri milhares de discussões sobre parto humanizado, violência obstétrica,
empoderamento da mulher e não tive dúvidas, eu ia defender que meu parto fosse
do jeito que eu quisesse, afinal, quem ia parir mesmo?
Cheguei a pensar em ter um parto
em casa, na água, no aconchego do meu lar e ao lado de minha família, mas além
de não ter apoio nenhum pra isso, eu não tinha condições financeiras no momento.
Eu gostava do meu obstetra, que apesar de não praticar o parto humanizado, me
deixava muito confiante, Deus sabia onde tinha me colocado... Na verdade eu só
queria ficar em paz e que respeitassem o tempo de meu corpo e do meu filho...
Ainda não estava muito segura de
como ia ser comigo e decidi contratar um doula, primeiro conversei com a
Valéria Dal-Pra Zen, Terapeuta Floral e Praticante de EFT (
www.eftbrasil.net.br), e depois com a
Inês Baylão de Morais Monson, professora de Yoga e orientadora gestacional (
diariodeumadoula.blogspot.com.br), são mulheres
incríveis e me apaixonei pelo trabalho delas... Fiquei com a Valéria porque ela
tinha acabado de participar do parto domiciliar de uma amiga e parecia que
falávamos a mesma língua, senti muita sincronia com tudo o que estava acontecendo
comigo. Preciso ressaltar que não sei o que teria sido do meu parto sem minha
querida doula, é indispensável ter esse apoio durante o TP quando chega a
grande hora nos esquecemos de tudo, ficamos amedrontadas e ainda temos que
encarar a nossa sombra, nos entregar à dor.
Eu estava com 39 semanas de
gestação quando meu tampão caiu, que emoção! Isso indicava que a hora estava
chegando... Eu sempre tinha contrações fortes desde 28 semanas, algumas bem
doloridas, às vezes vinham de 05 em 05min, mas não por mais de 1h. Durante
aquele dia fiquei muito ansiosa, mas nada aconteceu. Meus amigos e familiares
faziam apostas do dia que seria meu parto, marcávamos no calendário, mas no fim
ninguém acertou... bom, apenas meu obstetra acertou, pois ele nasceu na data
prevista para o parto, com exatas 40 semanas.
Na madrugada do dia 29/03 comecei
a sentir contrações bem mais fortes e doloridas que o normal, o meu marido
estava dormindo e eu não sabia se acordava ele ou não, então fiquei na cama
contando o intervalo das contrações e tentando dormir. Quando percebi que as
contrações não me deixavam dormir, entendi que a aventura tinha começado e
falei pro meu marido que achava que tinha começado o meu TP, ele deu um pulo da
cama animadíssimo e começou a se vestir... eu fiquei rindo e perguntando o que
ele estava fazendo, ainda eram 2h da manhã e eu sentia que tudo ia demorar um
pouco mais que isso. Tranquilizei o Alex e ligamos para a Valéria, nós já
esperávamos que tudo começasse pela madrugada, mas ainda estava com pena de
acordar ela.
Ela chegou umas 4h da manhã com o
Rafael, o marido dela, foi ótimo, ele ajudou muito a distrair o meu marido que
achava que o Samuel ia nascer a qualquer momento. Enquanto amanhecia, fizemos
um chá bem forte para esquentar o corpo e as contrações continuavam de 05 em 05min.
A dorzinha que eu sentia não passava de uma cólica leve, mas eu estava tão
empolgada que podia doer muito mais e eu não ia me importar.
Durante o café da manhã meu
marido se perguntava quando iriamos para a maternidade, então acabei pedindo
pra minha doula fazer o toque vaginal e ver se estávamos indo bem com a
dilatação (eu não tinha certeza se conseguia fazer direito em mim mesma), ela
disse que eu estava com 02 de dilatação e perguntou animada o que nós comeríamos
no almoço... “como assim almoço?”, meu marido fez aquela cara de assustado e eu
não sabia se ria ou chorava, não imaginava que demoraria tanto...
O Samuel ainda se mexia bastante,
eufórico como sempre, estávamos animados e ansiosos... à tarde minha dilatação
não avançava em nada, então a Valéria sugeriu que fossemos dar uma caminhada,
ir ao mercado, dar uma volta na quadra, então fomos comprar mais canela para o
chá... nessa altura eu não conseguia ficar em pé durante as contrações, estavam
bem doloridas e caminhar parecia uma loucura total... eu parecia uma maluca
parando na rua a cada 05min e gemendo de dor... depois que voltamos pra casa eu
fiz alguns movimentos de yoga para acelerar as coisas e relaxar um pouco, me
lembrei das técnicas do parto ativo, a Valéria sempre me fazia bastante
massagem e conversávamos muito, o resultado de tudo isso foi chegar a 03 de
dilatação! (eu sei que parece pouco, mas pelo menos estávamos progredindo).
Sentia que eu precisava relaxar
mais, me entregar àquilo tudo, resolvi tomar um pouco de ayahuasca, me
concentrei muito, pedi força e recebi orientações importantes, escrevi uma
cartinha pro meu filho (dizem que pode fazer muita diferença quando o TP fica
muito demorado)... mas só mais tarde as coisas ficaram realmente difíceis.
Ainda deu tempo de tomar um café
da tarde e jantar... já eram 10h da noite e eu não passava de 04 de dilatação,
então a Valéria sugeriu que fossemos para a maternidade pra ver se o Samuel
estava bem e que avisássemos o meu obstetra sobre o TP... minha bolsa ainda não
tinha estourado, mas estava vazando bastante, então achei mesmo prudente.
Na maternidade escutamos o coração
dele, estava tudo ótimo, mas eu ainda não passava de 04 de dilatação, o médico
que me atendeu sugeriu que eu já me internasse, mas eu liguei pro meu obstetra
e disse que não queria ficar ali, que voltaria pra casa... lembro que a
enfermeira me olhou horrorizada, como se eu fosse ter meu filho no carro e
insistiu algumas vezes que o melhor era que eu ficasse na maternidade... eu fingi
que não era comigo e por pouco não falei de meu desejo de ter um parto tão rápido
assim, mas aí chegou uma contração muito forte e fiquei quieta...
Durante o trajeto de volta ficar
sentada estava sendo uma tortura total, estava doendo muito em cada contração e
eu comecei a chorar, eu estava morta de sono, eu não conseguia imaginar que
aquela dor ia ficar pior, mas eu não chorava de dor, meu choro era uma mistura
de vergonha e medo, pois tudo o que eu queria era gritar “chega, não aguento
mais, não gostei da brincadeira!”, e isso ia contra tudo o que eu acreditava
que era bom pra mim e meu filho...
Chegando em casa, decidimos que
era importante descansar e tentar dormir um pouco. Depois que deitei e tentei
relaxar, quase que por milagre as minhas contrações começaram a vir de 15 em 15
minutos por algum tempo, o suficiente para dormir e recuperar as energias. Lá
por 03h da manhã (do dia 30/03), as contrações voltaram de 05 em 05min e muito
mais dolorosas, eu senti que precisava desesperadamente de um banho quente,
fiquei quase 01h debaixo do chuveiro e apesar da dor, preciso dizer o quando
foi prazeroso estar ali, sentia meu corpo pulsando como nunca havia sentido
antes, sentia meu filho, sentia um amor incondicional e uma sensação de
gratidão por estar ali, pude conversar com o Samuel, cantei uma musica linda pra
nós e quando vinha uma onda de dor gritei pra valer e com gosto, parece
loucura, mas eu estava me sentindo uma leoa e aquilo foi muito gostoso...
Quando saí do banho a Valéria e
meu marido estavam me esperando, tinham dormido um pouco e também tinham
recuperado um pouco de energia... Sentamos na minha cama e começamos a refletir
sobre o porquê daquela demora, eu sempre acreditei que tudo tem um porque, pois
“nenhuma folha cai sem a vontade de Deus”, cada um tem uma experiência, uma
sombra pra encarar... Eu fiquei refletindo e percebi como julgava as mulheres
por suas escolhas na hora de ter seus filhos, por não tentarem o parto normal,
por desistirem no meio do caminho, por não confiarem em seus corpos, por serem
tão submissas aos médicos... mas quanta estupidez... quanta vergonha senti,
voltei a chorar de novo, de soluçar... cada um tem seu limite de dor, cada um
sabe o que pode aguentar e a experiência que quer ter, como isso poderia ser
questionado ou criticado? O que falta é informação, orientação e muitas doulas
por aí para acompanhar e ajudar outras mulheres a lembrar de quem são e a força
que possuem.
No escurinho e aconchego de meu
quarto e no quentinho da minha cama, também percebi como seria difícil ir para
a maternidade, eu estava bem, relaxada, confortável, eu queria ficar ali, parir
o meu filho na minha casa, em paz, e tenho certeza que teria sido
maravilhoso...
O Alex e a Valéria já estavam
conversando sobre a hora de sair, apesar de não querer, eu sabia que era melhor
ir antes que amanhecesse e o transito ficasse ruim. Saímos quase 05h30 da
manhã, eu parecia uma criança agarrada no travesseiro e ansiosa pra sair logo,
naquele momento eu urrava de dor...
Chegando à maternidade eu estava
com quase 06 de dilatação, suava muito e daí pra frente foi tudo muito rápido,
de hora em hora minha dilatação aumentava e a dor também... Algumas vezes eu
pensava em pedir a bendita anestesia, não ajudava muito aquele clima frio de
hospital, não poder ficar num chuveiro quente, querer ficar nua e sentir
vergonha de fazer isso, sem falar no cansaço das quase 30h de TP, mas eu sabia
que podia passar por aquilo tudo, eu não tinha chegado ao meu limite ainda.
Às 10h da manhã o meu médico
sugeriu que fossemos para o centro cirúrgico, pois não parava de escorrer
líquido e estava chegando a hora do Samuel nascer. Chegando lá foi constatado o
almejado 10 de dilatação e o médico sugeriu que terminássemos de estourar a
bolsa, apesar de não achar necessário, eu não me importei, eu estava cansada
demais pra pensar ou retrucar por algo, e como eu já esperava o líquido estava
normal. Naquele momento a dor estava realmente insuportável, eu estava de
cócoras no chão, agarrada no meu marido e a Valéria bem tranquila me diz “ótimo,
agora pode começar a fazer força!”... eu entrei em pânico... “o que?” Eu estava
fazendo o impossível, posições que eu não imaginava que podia fazer, eu não
tinha nem 02min pra respirar e superar a dor das contrações, e ainda teria que
fazer força?... meu pânico chegou a um limite tão grande, que imediatamente
levantei e implorei por uma anestesia. É claro que eu sabia que no período
expulsivo eu teria que fazer uma forcinha, mas eu estava exausta e meu limite
havia chegado ao fim.
A Valéria foi muito consciente e
me perguntou algumas vezes se eu tinha certeza disso, eu não conseguia pensar em
mais nada, estava surtando... Foi um alívio muito grande, eu me acalmei, podia
respirar, fiquei muito feliz que mesmo anestesiada eu sentia tudo, senti meu
filho descendo e saindo de mim, por isso não me arrependo, foi bom sentir que a
primeira coisa que meu filho escutaria não seriam meus gritos...
Quando colocaram o Samuel no meu
peito foi uma explosão tão grande de amor e paz, ele era lindo, todo
rosadinho... Como eu tinha combinado com meu obstetra, demorou um pouco para
que cortassem o cordão umbilical, a sala estava em temperatura ambiente e sem
luzes cegando ninguém.
Enquanto eu estava em observação,
uma mulher ao meu lado me perguntou se era eu a que estava tentando o parto
humanizado, isso me deixou tão feliz e orgulhosa! A maternidade inteira ouviu
meus gritos, mas eu estava dando o exemplo! hehehe
Apesar das 30h de trabalho de
parto, foi tudo perfeito, o Samuel nasceu às 10h40 com 3.350g, eu consegui que
fosse um parto normal e o mais humanizado possível, inclusive consegui evitar
que colocassem o nitrato de prata nos olhos do Samuel e meu marido ficou com
ele o máximo de tempo possível, enquanto pesavam, mediam e perturbavam ele,
coitadinho... talvez pudéssemos ter evitado mais intervenções, mas estávamos todos
tão cansados!
Eu cheguei até meu limite e
estava orgulhosa disso, levei a minha placenta pra casa e a enterrei
agradecendo à minha Mãe Divina pela dádiva de gerar e parir meu filho, por toda
a força e por ter passado por esse desafio imenso de me tornar mãe!
Agradeço muito ao meu marido, à
minha doula querida e ao meu obstetra, pois eles me apoiaram imensamente o
tempo todo.
Agradeço também aos grupos de
mulheres e às discussões sobre parto humanizado, à todo o empenho dessas
guerreiras que lutam pelo empoderamento da mulher, faz toda a diferença!
Namastê!!!