quinta-feira, 24 de maio de 2012

Criação com apego?


Quando eu estava grávida sempre me questionei sobre a melhor forma de criar meu bebê, domir junto ou não, carregar muito ou não, dar mamadeira, ou dar chupeta... decidi por muitas coisas que pareciam mais naturais... 

Eu decidi que queria parir meu filho sem intervensões, de forma natural e tranquila, muitas mães criticam essa atitude "hoje tem tanta tecnologia!"... mas elas não sabem que parir é a coisa mais transformadora que existe na vida de um ser humano e deve ser um momento sagrado e respeitado...

Eu queria que o Samuel durmisse na minha cama ao meu lado sempre, mas não cabia no quarto e nem na cama, no primeiro mês chutei meu marido da cama (hehhehe... coitadinho), e dormimos eu e ele juntinhos, depois me libertei um pouco e fui deixando no berço, sempre me pareceu mais seguro...

Eu queria sair com ele no colo e não no carrinho, então descobri a existencia dos slings e comprei um, as pessoas me olham na rua, muitas encantadas e outras achando estranho, "por que ela não coloca essa criança no carrinho?".... eu sempre pensei que fosse mais natural deixar a cria no peito como os cangurus e macaquinhos... =D

Eu acordo de madrugada com ele chorando de fome, frio ou medo, não importa, com muito prazer e sono, vou lá ninar e amar ele um pouquinho... muitas vovozinhas diriam "deixe que chore!".... mas o que custa acudir e respeitar a unica forma que eles têm pra se expressar... quando vc chora não gostaria que alguém ninasse vc?

Resolvi usar fraldas de pano, pelo meio ambiente, por amor à pele dele, por amor ao bolso... enfim, muitos ainda insistem em me perguntar "mas pra que?", bom, principalmente porque eu odiaria ter um plástico grudado na pele o tempo todo.... 

Eu decidi que o Samuel iria mamar até quando ele quisesse, muitos diriam "ai que feio é ver uma criança com mais de 2 anos mamando no peito"... bom eu acho feias as mamadeiras e chupetas e nem por isso critico a criança que usa além dos 2 anos...

Eu faço massagem no meu filho todos os dias antes do banho com óleo de amêndoas e muitos não entenderiam toda essa disposição... "mas eles nem ligam pra massagens!"... quem não gosta de massagens?!

Estou testando a técnica da Higiene Natural no Samuel para evitar que a pele dele esteja sempre em contato com suas eliminações, por amor? por respeito? quem é que gosta de ficar com o bumbum sujo?

É diferente? É estranho? Eu não acho, porque ser mãe é ser instinto, ser filho é ser uma alma nova totalmente dependente desse instinto... 

Criação com apego é amor incondicional... é querer ver sorrisos, é querer passar segurança, é querer estar sempre por perto, é explicar o porquê das coisas com carinho, é educar, é RESPEITAR.

"Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria".


quinta-feira, 17 de maio de 2012

O meu relato de parto...

O nascimento do Samuel Elohin

Depois de 02 anos de espera para a chegada do meu 1º filho, meu ser das estrelas que me foi prometido pelos anjos, finalmente tudo se tornava realidade, eu estava com grávida!

Fiquei dias tentando me convencer de que aquilo não era um sonho, e nos meses seguintes tive que ficar me convencendo que tudo seria perfeito e que não precisava me preocupar, eu tinha pavor que qualquer coisa pudesse acontecer ou que eu pudesse perder meu bebê, entre outras mil coisas que passavam pela minha cabeça, mas fui muito abençoada e meu corpo fez seu trabalho direitinho, passei por descobertas e emoções que me fizeram rever a vida e tudo o que eu havia aprendido até aquele momento.

Com o passar dos meses me descobri uma boa entendedora sobre maternidade, gravidez, partos, etc., eu não saia do computador e curti muito cada fase. Sempre tive algo que me dizia que ficar grávida e não ter um parto normal era muito estranho, sou vegetariana há anos, defensora de que as coisas deveriam ser o mais natural possível, então descobri milhares de discussões sobre parto humanizado, violência obstétrica, empoderamento da mulher e não tive dúvidas, eu ia defender que meu parto fosse do jeito que eu quisesse, afinal, quem ia parir mesmo?

Cheguei a pensar em ter um parto em casa, na água, no aconchego do meu lar e ao lado de minha família, mas além de não ter apoio nenhum pra isso, eu não tinha condições financeiras no momento. Eu gostava do meu obstetra, que apesar de não praticar o parto humanizado, me deixava muito confiante, Deus sabia onde tinha me colocado... Na verdade eu só queria ficar em paz e que respeitassem o tempo de meu corpo e do meu filho...

Ainda não estava muito segura de como ia ser comigo e decidi contratar um doula, primeiro conversei com a Valéria Dal-Pra Zen, Terapeuta Floral e Praticante de EFT (www.eftbrasil.net.br), e depois com a Inês Baylão de Morais Monson, professora de Yoga e orientadora gestacional (diariodeumadoula.blogspot.com.br), são mulheres incríveis e me apaixonei pelo trabalho delas... Fiquei com a Valéria porque ela tinha acabado de participar do parto domiciliar de uma amiga e parecia que falávamos a mesma língua, senti muita sincronia com tudo o que estava acontecendo comigo. Preciso ressaltar que não sei o que teria sido do meu parto sem minha querida doula, é indispensável ter esse apoio durante o TP quando chega a grande hora nos esquecemos de tudo, ficamos amedrontadas e ainda temos que encarar a nossa sombra, nos entregar à dor.

Eu estava com 39 semanas de gestação quando meu tampão caiu, que emoção! Isso indicava que a hora estava chegando... Eu sempre tinha contrações fortes desde 28 semanas, algumas bem doloridas, às vezes vinham de 05 em 05min, mas não por mais de 1h. Durante aquele dia fiquei muito ansiosa, mas nada aconteceu. Meus amigos e familiares faziam apostas do dia que seria meu parto, marcávamos no calendário, mas no fim ninguém acertou... bom, apenas meu obstetra acertou, pois ele nasceu na data prevista para o parto, com exatas 40 semanas.

Na madrugada do dia 29/03 comecei a sentir contrações bem mais fortes e doloridas que o normal, o meu marido estava dormindo e eu não sabia se acordava ele ou não, então fiquei na cama contando o intervalo das contrações e tentando dormir. Quando percebi que as contrações não me deixavam dormir, entendi que a aventura tinha começado e falei pro meu marido que achava que tinha começado o meu TP, ele deu um pulo da cama animadíssimo e começou a se vestir... eu fiquei rindo e perguntando o que ele estava fazendo, ainda eram 2h da manhã e eu sentia que tudo ia demorar um pouco mais que isso. Tranquilizei o Alex e ligamos para a Valéria, nós já esperávamos que tudo começasse pela madrugada, mas ainda estava com pena de acordar ela.

Ela chegou umas 4h da manhã com o Rafael, o marido dela, foi ótimo, ele ajudou muito a distrair o meu marido que achava que o Samuel ia nascer a qualquer momento. Enquanto amanhecia, fizemos um chá bem forte para esquentar o corpo e as contrações continuavam de 05 em 05min. A dorzinha que eu sentia não passava de uma cólica leve, mas eu estava tão empolgada que podia doer muito mais e eu não ia me importar.

Durante o café da manhã meu marido se perguntava quando iriamos para a maternidade, então acabei pedindo pra minha doula fazer o toque vaginal e ver se estávamos indo bem com a dilatação (eu não tinha certeza se conseguia fazer direito em mim mesma), ela disse que eu estava com 02 de dilatação e perguntou animada o que nós comeríamos no almoço... “como assim almoço?”, meu marido fez aquela cara de assustado e eu não sabia se ria ou chorava, não imaginava que demoraria tanto...

O Samuel ainda se mexia bastante, eufórico como sempre, estávamos animados e ansiosos... à tarde minha dilatação não avançava em nada, então a Valéria sugeriu que fossemos dar uma caminhada, ir ao mercado, dar uma volta na quadra, então fomos comprar mais canela para o chá... nessa altura eu não conseguia ficar em pé durante as contrações, estavam bem doloridas e caminhar parecia uma loucura total... eu parecia uma maluca parando na rua a cada 05min e gemendo de dor... depois que voltamos pra casa eu fiz alguns movimentos de yoga para acelerar as coisas e relaxar um pouco, me lembrei das técnicas do parto ativo, a Valéria sempre me fazia bastante massagem e conversávamos muito, o resultado de tudo isso foi chegar a 03 de dilatação! (eu sei que parece pouco, mas pelo menos estávamos progredindo).

Sentia que eu precisava relaxar mais, me entregar àquilo tudo, resolvi tomar um pouco de ayahuasca, me concentrei muito, pedi força e recebi orientações importantes, escrevi uma cartinha pro meu filho (dizem que pode fazer muita diferença quando o TP fica muito demorado)... mas só mais tarde as coisas ficaram realmente difíceis.

Ainda deu tempo de tomar um café da tarde e jantar... já eram 10h da noite e eu não passava de 04 de dilatação, então a Valéria sugeriu que fossemos para a maternidade pra ver se o Samuel estava bem e que avisássemos o meu obstetra sobre o TP... minha bolsa ainda não tinha estourado, mas estava vazando bastante, então achei mesmo prudente.

Na maternidade escutamos o coração dele, estava tudo ótimo, mas eu ainda não passava de 04 de dilatação, o médico que me atendeu sugeriu que eu já me internasse, mas eu liguei pro meu obstetra e disse que não queria ficar ali, que voltaria pra casa... lembro que a enfermeira me olhou horrorizada, como se eu fosse ter meu filho no carro e insistiu algumas vezes que o melhor era que eu ficasse na maternidade... eu fingi que não era comigo e por pouco não falei de meu desejo de ter um parto tão rápido assim, mas aí chegou uma contração muito forte e fiquei quieta...

Durante o trajeto de volta ficar sentada estava sendo uma tortura total, estava doendo muito em cada contração e eu comecei a chorar, eu estava morta de sono, eu não conseguia imaginar que aquela dor ia ficar pior, mas eu não chorava de dor, meu choro era uma mistura de vergonha e medo, pois tudo o que eu queria era gritar “chega, não aguento mais, não gostei da brincadeira!”, e isso ia contra tudo o que eu acreditava que era bom pra mim e meu filho...

Chegando em casa, decidimos que era importante descansar e tentar dormir um pouco. Depois que deitei e tentei relaxar, quase que por milagre as minhas contrações começaram a vir de 15 em 15 minutos por algum tempo, o suficiente para dormir e recuperar as energias. Lá por 03h da manhã (do dia 30/03), as contrações voltaram de 05 em 05min e muito mais dolorosas, eu senti que precisava desesperadamente de um banho quente, fiquei quase 01h debaixo do chuveiro e apesar da dor, preciso dizer o quando foi prazeroso estar ali, sentia meu corpo pulsando como nunca havia sentido antes, sentia meu filho, sentia um amor incondicional e uma sensação de gratidão por estar ali, pude conversar com o Samuel, cantei uma musica linda pra nós e quando vinha uma onda de dor gritei pra valer e com gosto, parece loucura, mas eu estava me sentindo uma leoa e aquilo foi muito gostoso...

Quando saí do banho a Valéria e meu marido estavam me esperando, tinham dormido um pouco e também tinham recuperado um pouco de energia... Sentamos na minha cama e começamos a refletir sobre o porquê daquela demora, eu sempre acreditei que tudo tem um porque, pois “nenhuma folha cai sem a vontade de Deus”, cada um tem uma experiência, uma sombra pra encarar... Eu fiquei refletindo e percebi como julgava as mulheres por suas escolhas na hora de ter seus filhos, por não tentarem o parto normal, por desistirem no meio do caminho, por não confiarem em seus corpos, por serem tão submissas aos médicos... mas quanta estupidez... quanta vergonha senti, voltei a chorar de novo, de soluçar... cada um tem seu limite de dor, cada um sabe o que pode aguentar e a experiência que quer ter, como isso poderia ser questionado ou criticado? O que falta é informação, orientação e muitas doulas por aí para acompanhar e ajudar outras mulheres a lembrar de quem são e a força que possuem.

No escurinho e aconchego de meu quarto e no quentinho da minha cama, também percebi como seria difícil ir para a maternidade, eu estava bem, relaxada, confortável, eu queria ficar ali, parir o meu filho na minha casa, em paz, e tenho certeza que teria sido maravilhoso...

O Alex e a Valéria já estavam conversando sobre a hora de sair, apesar de não querer, eu sabia que era melhor ir antes que amanhecesse e o transito ficasse ruim. Saímos quase 05h30 da manhã, eu parecia uma criança agarrada no travesseiro e ansiosa pra sair logo, naquele momento eu urrava de dor...  

Chegando à maternidade eu estava com quase 06 de dilatação, suava muito e daí pra frente foi tudo muito rápido, de hora em hora minha dilatação aumentava e a dor também... Algumas vezes eu pensava em pedir a bendita anestesia, não ajudava muito aquele clima frio de hospital, não poder ficar num chuveiro quente, querer ficar nua e sentir vergonha de fazer isso, sem falar no cansaço das quase 30h de TP, mas eu sabia que podia passar por aquilo tudo, eu não tinha chegado ao meu limite ainda.

Às 10h da manhã o meu médico sugeriu que fossemos para o centro cirúrgico, pois não parava de escorrer líquido e estava chegando a hora do Samuel nascer. Chegando lá foi constatado o almejado 10 de dilatação e o médico sugeriu que terminássemos de estourar a bolsa, apesar de não achar necessário, eu não me importei, eu estava cansada demais pra pensar ou retrucar por algo, e como eu já esperava o líquido estava normal. Naquele momento a dor estava realmente insuportável, eu estava de cócoras no chão, agarrada no meu marido e a Valéria bem tranquila me diz “ótimo, agora pode começar a fazer força!”... eu entrei em pânico... “o que?” Eu estava fazendo o impossível, posições que eu não imaginava que podia fazer, eu não tinha nem 02min pra respirar e superar a dor das contrações, e ainda teria que fazer força?... meu pânico chegou a um limite tão grande, que imediatamente levantei e implorei por uma anestesia. É claro que eu sabia que no período expulsivo eu teria que fazer uma forcinha, mas eu estava exausta e meu limite havia chegado ao fim.

A Valéria foi muito consciente e me perguntou algumas vezes se eu tinha certeza disso, eu não conseguia pensar em mais nada, estava surtando... Foi um alívio muito grande, eu me acalmei, podia respirar, fiquei muito feliz que mesmo anestesiada eu sentia tudo, senti meu filho descendo e saindo de mim, por isso não me arrependo, foi bom sentir que a primeira coisa que meu filho escutaria não seriam meus gritos...

Quando colocaram o Samuel no meu peito foi uma explosão tão grande de amor e paz, ele era lindo, todo rosadinho... Como eu tinha combinado com meu obstetra, demorou um pouco para que cortassem o cordão umbilical, a sala estava em temperatura ambiente e sem luzes cegando ninguém. 

Enquanto eu estava em observação, uma mulher ao meu lado me perguntou se era eu a que estava tentando o parto humanizado, isso me deixou tão feliz e orgulhosa! A maternidade inteira ouviu meus gritos, mas eu estava dando o exemplo! hehehe

Apesar das 30h de trabalho de parto, foi tudo perfeito, o Samuel nasceu às 10h40 com 3.350g, eu consegui que fosse um parto normal e o mais humanizado possível, inclusive consegui evitar que colocassem o nitrato de prata nos olhos do Samuel e meu marido ficou com ele o máximo de tempo possível, enquanto pesavam, mediam e perturbavam ele, coitadinho... talvez pudéssemos ter evitado mais intervenções, mas estávamos todos tão cansados! 

Eu cheguei até meu limite e estava orgulhosa disso, levei a minha placenta pra casa e a enterrei agradecendo à minha Mãe Divina pela dádiva de gerar e parir meu filho, por toda a força e por ter passado por esse desafio imenso de me tornar mãe!

Agradeço muito ao meu marido, à minha doula querida e ao meu obstetra, pois eles me apoiaram imensamente o tempo todo. 

Agradeço também aos grupos de mulheres e às discussões sobre parto humanizado, à todo o empenho dessas guerreiras que lutam pelo empoderamento da mulher, faz toda a diferença!
Namastê!!!